terça-feira, 6 de novembro de 2007

Pregação e dor de cabeça

A volta do trabalho pra mim é sempre uma aventura antropológica há algum tempo. Vou pisar em ovos porque o assunto é delicado: agora sou um homem que anda de trem. Enfrentei meu preconceito (admito) e adotei esse meio de transporte meio marginalizado aqui no Brasil, mas secular. É só "jogar no Google": as primeiras locomotivas foram criadas na primeira década do século 19. E pensando bem, vale a pena dar uma olhada nas fotos da estação ferroviária de Frankfurt: parece muito com a nossa Central do Brasil. Forçando uma barra, no final das contas é tudo uma questão de ponto de vista. Apesar da semelhança estética, visual, é lógico que o Brasil tem lá as suas adaptações. Por exemplo: ao andar de trem descobri, ou melhor, comprovei, que os cultos evangélicos não acontecem somente nas igrejas. Imagine a seguinte cena: acabo de correr para dentro da composição com medo das portas fecharem e o trem ir embora. Cansaço, noite, um pouco de calor... Silêncio. De repente, ao meu lado, do nada, ouço um "ALELUIA!". Várias pessoas respondem. Se eu não fosse um cara muito calmo teria dado um pulo com o susto. O grito é a senha para o início da pregação. Isso mesmo! Um culto ferroviário! Agora começa mesmo aquela parte de pisar em ovos... É aquela coisa: temos que respeitar todas as religiões. Cada uma tem a sua missão e o seu público. E no caso dos evangélicos, acho realmente muito bonito a intensidade de sua fé (tirando os pastores "marketeiros" e seus dízimos compulsórios). Mas vou te contar, é dose ser "convidado" desta forma a presenciar um culto. Soa até pretensioso, partirem do princípio de que aquele espaço do vagão é só deles e que todos ali estão dispostos a aturar durante toda a viagem os berros, música alta e barulho de percussão em nome da palavra de Deus, que poderia perfeitamente ser dita de outra forma. Eu não fico nem 15 minutos no trem, mas consigo imaginar perfeitamente o que seria uma viagem até Japeri ou Queimados (bóia zona sul!) nesse embalo hipnótico. E hoje ainda tinha a companhia de uma dor de cabeça implacável pra piorar a situação. Como diria minha amiga Patrícia: "enfim!". É o preço da rapidez. E já que pisei em terreno minado mesmo, pra encerrar aqui vai uma lista de expressões mais usadas com um pedido por mais criatividade e espontaneidade nos próximos cultos: "aleluia!", "ô glória", "o leão de Judá!", "a raiz de Davi", "me dá tua Shekinah", "unção". Essas são as senhas. Depois basta repetir incansavelmente a cada três segundos numa oração interminável. Amanhã começa tudo de novo. Boa noite...

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