sábado, 14 de fevereiro de 2009

Desencavando um post...


Resolvi resgatar esse post perdido há alguns anos e que foi escrito em outro site de relacionamento. É uma homenagem ao que eu era naqueles tempos e uma maneira de conferir, quem sabe, o que ainda resta desses fatos nos dias de hoje. Não é para todos entenderem mesmo! =] O consolo é que hoje estou um pouco mais velho e com toda certeza, mais feliz! =]


(Postado "em algum lugar" de 12 de novembro de 2003, quarta-feira):


"Que noite! E que calor infernal! Não sei o que é pior: ficar suando desesperado aqui no meu quarto com o ventilador quebrado, ou ficar naquela sala com o ar condicionado a mil e as bactérias do IML entrando no meu corpo pela porta condescendente e displicente da respiração. O tema é recorrente, mas a raiva acumulada ganha sempre outras nuances. Vai se aprimorando como um vírus de computador bem feito. Atinge todos os cantos do meu corpo e passo a me sentir controlado por ela até nos momentos mais simples da vida. Mesmo que os outros não percebam, ela está lá rindo sarcasticamente pra mim. Me desafiando até durante o sono. A aflição de negar impulsos e sentimentos mais honestos para que um só ego possa prevalecer. Assistir à sua implosão é o meu destino. A raiva me levou à observação atenta e cuidadosa do processo. E essa foi a minha conclusão. Estamos assistindo de camarote (não sem sacrifícios é verdade!) à extinção de uma estrela. São tempestades magnéticas, labaredas de fogo que percorrem o espaço arrasando tudo o que encontram pela frente, afetando seus satélites, que passam a desejar outras órbitas mais seguras. Ouço até uivos, gritos de desespero, roncos infernais de motores em colapso, que vão perdendo suas engrenagens, forçados à paralisia total. É triste acompanhar isso. Pensando bem, essa visão é mais angustiante do que sofrer as conseqüências do desespero. A aflição da vaidade é a loucura. E estamos afundados nela. Queira Deus que não tenhamos marcas no futuro, mas a frieza necessária no presente para neutralizar os seus efeitos. Em quanto tempo um sonho puro, honesto e legítimo pode ser destruído? Eu tenho uma idéia dessa medida. A cada crise uma nova meta era criada para esquecer a última decepção. Os desafios? Cada vez mais arrojados e complexos. O último ciclo é o mais sufocante. É que agora não há mais dúvidas, mas sim uma penca de hipóteses que precisam ser comprovadas a todo custo. A comprovação é uma autêntica luta do bem contra o mal, com direito a capa e espada, sons de cavalos galopando e de metais se ferindo no espaço. Falta um sinal da vida, uma confirmação. Somos navegantes exaustos sonhando há meses com a terra firme. À beira de um motim, mas (que ironia) sem capitão. Quem devemos culpar? O navio que nos transporta, sem leme, sem direção? Nós mesmos, que embarcamos nessa viagem? Pensamos que o culpado perfeito seria a pureza de nossas intenções, carregadas de ingenuidade. Mas acho que essa ainda não é a resposta. Talvez não haja culpa. O que existe é apenas 'conseqüência'. A busca pelo equilíbrio tem dessas coisas. Um pouco de sofrimento e de auto-conhecimento. Uma combinação ideal pra quem precisa amadurecer. O 'drink' é servido com pompa e circunstância, com direito a uma pequena azeitona muito verde que parece dizer "você vai ter que me engolir também". E assim, acabamos engolindo mesmo e descobrindo que a combinação tem o seu preço além do que já está indicado no cardápio. O adicional se chama "convenções" ou "conveniências", disfarçados na azeitona muito verde e carnuda que pede pra ser comida com gosto. E devemos lamber os beiços com satisfação. Essa é a missão da azeitona: impôr um toque de 'glamour' discutível a quem não estava preparado sequer para a bebida explosiva e mesmo a quem se acostumou a apreciá-la com sofreguidão."